Interferência do comportamento sedentário e da prática de atividade física nos indicativos de burnout de estudantes de educação física / Interference of sedentary behavior and physical activity in the burnout indicators of physical education students


Departamento de Pós­-Graduação Stricto Sensu em Educação Física, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil
Departamento de Pós­-Graduação Stricto Sensu em Educação Física, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, Pernambuco, Brasil
Departamento de Graduação em Educação Física,, Centro Universitário Metropolitano de Maringá, Maringá, Paraná, Brasil
Departamento de Pós-­Graduação Stricto Sensu em Promoção da Saúde, Universidade Cesumar, Maringá, Paraná, Brasil

Abstract

Objective: to verify if sedentary behavior and the duration and frequency of physical activity interfere in the burnout indicators of physical education university students. Methods: a cross-sectional study, carried out with 147 physical education students, bachelor's degrees, of both genres. An adaptation for the academic context (students) of the Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo was used, and the International Physical Activity Questionnaire (IPAQ - short version). Data were analyzed by the Kolmogorov-Smirnov and “U” tests by Mann-Whitney, and the level of significance was set at p <0.05. Results: students who walk up to 40 min a day showed more significant burnout symptoms than students with longer walking time in the day (p = 0.007). Students who walk up to 135 min a week showed higher indications for the development of psychological wear than those who walk more than 135 min a week (p = 0.017). Students who practice up to 60 min of moderate activities per day had a higher score than students who practice more than 60 min of moderate activities per day (p = 0.011). Significant differences were found in indolence (p = 0.011) and guilt (p = 0.023) dimensions, showing that students who spend more time sitting had a higher score in both dimensions of burnout. Conclusion: the duration and frequency of physical activity and sedentary behavior interfere with the indications of burnout in physical education students.

Keywords

burnout syndrome, exercise, motor activity, physical education and training, sedentary behavior

Resumo

Objetivo: verificar se o comportamento sedentário e a duração e frequência da prática de atividades físicas interferem nos indicativos de burnout de estudantes universitários de educação física. Métodos: trata-se de um estudo transversal, realizado com 147 acadêmicos de educação física, bacharelado, de ambos os sexos. Foi utilizado uma adaptação para o contexto acadêmico (estudantes) do Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo, e o Questionário Internacional de Atividade física (IPAQ – versão curta). Os dados foram analisados pelos testes Kolmogorov-Smirnov e “U” de Mann-Whitney e o nível de significância adotado foi de p < 0,05. Resultados: os estudantes que caminham até 40 min por dia apresentaram maiores sintomas de burnout do que os estudantes com maior tempo de caminhada no dia (p = 0,007). Os estudantes que caminham até 135 min semanais apresentaram maiores indicativos para desenvolvimento de desgaste psíquico do que os que caminham mais de 135 min semanais (p = 0,017). Os estudantes que praticam até 60 min de atividades moderadas por dia apresentaram escore superior aos estudantes que praticam mais de 60 min de atividades moderadas por dia (p = 0,011). Foram encontradas diferenças significativas nas dimensões de indolência (p = 0,011) e culpa (p = 0,023), evidenciando que os estudantes que passam mais tempo sentados apresentaram escore superior em ambas as dimensões de burnout. Conclusão: a duração e frequência da atividade física e o comportamento sedentário interferem nos indicativos de burnout em estudantes de educação física.

Informações Gerais

Submetido em 22 de março de 2020, aceito em 13 de agosto de 2020, publicado em 3 de dezembro de 2020

*Autor de correspondência: Departamento de pós-graduação stricto sensu em Educação Física, Universidade Estadual de Maringá. Avenida Londrina, 934. Zona 08. Maringá, PR, Brasil | CEP: 87050-730.Fone: (44) 99942-8575

Este estudo foi realizado no Centro Universitário Metropolitano de Maringá.

https://doi.org/10.21876/rcshci.v10i4.955

Como citar este artigo: Oliveira DV, Freire GLM, Xavier JJM, Ribeiro TB, Pimentel HDA, Gouvêa JAG, et al. Interferência do comportamento sedentário e da prática de atividade física nos indicativos de burnout de estudantes de educação física. Rev Cienc Saude. 2020;10(4):16-22. https://doi.org/10.21876/rcshci.v10i4.955

2236-3785/© 2020 Revista Ciências em Saúde. Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob uma licença CC BY-NC-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/deed.pt_BR)

Introdução

Com o decorrer dos anos, notou-se um crescimento no estresse ocupacional e/ou síndrome de burnout em trabalhadores nas mais diversas funções, como profissionais da saúde (médicos e enfermeiros)1, 2, professores3 e até mesmo universitários4. Santos e Siqueira5 observaram que o estresse ocupacional dos brasileiros variou de 20 a 56% e destacaram que os motivais mais prevalentes indicados no estudo foram os de ansiedade, de humor, síndrome de burnout e o abuso de drogas (por exemplo, álcool, tabaco).

Constata-se que a síndrome de burnout afeta a vida laborativa do indivíduo, levando-o ao esgotamento emocional e reduzindo sua realização pessoal. Através da evolução da doença psíquica, o trabalhador pode perder o emprego, baixar a autoestima, envolver-se em comportamentos de uso arriscado de bebidas alcoólicas, em conflitos interpessoais e até mesmo incorrer ao suicídio6. Assim, pode-se considerar que a síndrome de burnout surge através de estressores interpessoais de longa duração no trabalho, dividindo-o em três dimensões: exaustão esmagadora, sentimentos de cinismo e distanciamento do trabalho, e sentimento de ineficácia e falta de realização7.

Wilkes et al.8 observaram evidências de que alunos de medicina apresentam altos níveis de problemas de saúde mental e sofrimento psicológico, trazendo dificuldades tanto pessoais como ocupacionais, levando-os a níveis altos de burnout e sintomas depressivos, pois estão sujeitos a ambientes de alta pressão e de desgaste emocional. Estudos semelhantes, realizados com estudantes de educação física, não foram encontrados.

Alunos universitários das mais diversas áreas do conhecimento são acometidos pela síndrome de burnout e os que atuam diretamente com a população são os mais afetados, como os da área da saúde. Isso ocorre devido a cargas elevadas de estudo associadas a estágios e práticas supervisionadas que levam os alunos a apresentarem sintomas de exaustão física e emocional9.

Diante do contexto, investigações sobre a síndrome de burnout em estudantes de educação física passam a ser de extrema relevância para o entendimento de como os processos de ensino/aprendizagem influenciam o comportamento desta população específica, uma vez que esses estudantes são inseridos muito cedo no mercado de trabalho. Assim, a presente investigação se justifica por compreender as atividades diárias dos estudantes, ampliando as possibilidades de ação e possibilitando promover um melhor bem-estar, saúde e qualidade de vida para professores, pesquisadores e estudantes.

Desta forma, a literatura atual demonstra que esses sintomas são potencializados quando os estudantes não fazem nenhuma prática de atividade física10, 11. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde12 preconiza que se deve praticar no mínimo 150 minutos por semana de atividade física moderada para não serem considerados sedentários.

O desequilíbrio laboral, problemas psicológicos, comportamentais e físicos trazem vários sintomas que afetam de forma negativa o indivíduo, como a fadiga, o distúrbio do sono, dores musculares, irritabilidade, perda de iniciativa, falta de atenção e de concentração, alterações da memória, isolamento, absenteísmo e perda de interesse pelo trabalho9.

A prática regular de atividades físicas pode impactar positivamente na qualidade de vida de universitários, pois libera hormônios como endorfinas, que agem reduzindo os transtornos depressivos e aqueles ligados à ansiedade. Outros benefícios dos exercícios físicos estão ligados à prevenção de doenças não transmissíveis, como cardiopatias, diabetes tipo 2, câncer de mama e de cólon, entre outras. Também ajudam na melhora da capacidade respiratória, na reserva cardíaca, nos reflexos, na força muscular, na memória recente, na cognição e nas habilidades sociais13. A prática regular de atividades físicas melhora a saúde em geral e o desempenho das funções ocupacionais9.

Porém, ainda pouco se sabe sobre o impacto do comportamento sedentário e da atividade física na síndrome de burnout em graduandos, especialmente os de educação física. Assim, este estudo teve como objetivo verificar se o comportamento sedentário e a duração e frequência da prática de atividades físicas interferem nos indicativos de burnout de estudantes de educação física.

Métodos

Trata-se de um estudo quantitativo, analítico, observacional e transversal, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Metropolitano de Maringá, por meio do parecer número 3.221.997/2018.

Participantes

A amostra foi selecionada de forma intencional e por conveniência, de modo não probabilístico, visto que foram avaliados todos os estudantes de educação física do Centro Universitário de Maringá (UNIFAMMA), uma instituição privada de ensino superior. Foram estudados 147 estudantes adultos (18 anos ou mais), sendo 89 homens e 57 mulheres, matriculados no Curso de Educação Física (Bacharelado), a partir do 1º ano do curso.

Foram excluídos aqueles que não aceitassem participar da pesquisa ou não preenchessem os questionários em sua totalidade. Porém, isto não ocorreu e todos os estudantes foram incluídos na pesquisa.

Instrumentos

Para caracterização dos participantes, foi utilizado um instrumento com questões referentes a idade, faixa etária, sexo, estado conjugal, filhos, e dados sobre realização de estágio na área.

Foi utilizada uma adaptação para o contexto acadêmico (estudantes) do Cuestionario para la Evaluación del Síndrome de Quemarse por el Trabajo (CESQT) em professores, validado para a língua portuguesa por Gil-Monte, Carlotto e Câmara14. O CESQT é composto por 20 itens distribuídos em quatro subescaslas: Ilusão pelo Trabalho, Desgaste Psíquico, Indolência e Culpa. Os itens foram avaliados mediante uma escala de frequência de cinco pontos, de 0 (nunca) a 4 (muito frequente; todos os dias), tendo como ponto intermediário a pontuação 2 (às vezes; algumas vezes por mês)14.

O International Physical Activity Questionnaire (IPAQ)15, versão curta, foi utilizado para avaliar o nível de atividade física dos estudantes. Este instrumento avalia atividades físicas realizadas no tempo de lazer, como deslocamento de um lugar ao outro, serviços domésticos e atividades ocupacionais. Por meio dele, é possível calcular a duração e frequência da prática de AF. Foi considerado o tempo de 150 minutos semanais de atividades físicas para o sujeito ser classificado como fisicamente ativo; para menos de dez minutos semanais, o sujeito foi considerado sedentário; aqueles que realizaram ao menos dez minutos e não alcançaram os 150 minutos foram considerados insuficientemente ativos. O IPAQ avalia o comportamento sedentário pelo tempo sentado em um dia da semana e final de semana.

Os estudantes foram agrupados em dois grupos, de acordo com o processo de Median Split, conforme a classificação abaixo:

  • Dias de caminhada na semana: até 5x por semana (n = 93) e mais de 5x por semana (n = 54)

  • Tempo de caminhada no dia: até 40 minutos (n = 78) e mais de 40 minutos (n = 69)

  • Tempo de caminhada semanal: até 135 minutos (n = 75) e mais de 135 minutos (n = 72)

  • Dias de atividade moderada por semana: até 3x (n = 73) e mais de 3x (n = 74)

  • Tempo de atividade moderada por dia: até 60 minutos (n = 93) e mais de 60 minutos (n = 54)

  • Tempo de atividade moderada por semana: até 225 minutos (n = 74) e mais de 225 minutos (n = 73)

  • Dias de atividade vigorosa na semana: até 3x (n = 86) e mais de 3x (n = 61)

  • Tempo de atividade vigorosa no dia: até 60 minutos (n = 92) e mais de 60 minutos (n = 55)

  • Tempo de atividade vigorosa por semana: até 180 minutos (n = 85) e mais de 180 minutos (n = 62)

  • Tempo sentado no dia: até 240 minutos (n = 74) e mais de 240 minutos (n = 73)

  • Tempo sentado no final de semana: até 360 minutos (n = 81) e mais de 360 minutos (n = 66).

Procedimentos de Coleta de Dados

 A coleta de dados foi realizada de novembro a dezembro de 2018 em uma instituição de ensino superior (IES) de caráter privado, apenas com os alunos matriculados no Curso de Educação Física (Bacharelado). Os dados foram coletados dentro das salas de aula, pelos próprios pesquisadores, após autorização do docente responsável pela aula no momento.

Foram explicados aos estudantes os objetivos da pesquisa bem os instrumentos que seriam utilizados. Aqueles que aceitaram assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Neste caso, todos os alunos matriculados participaram da pesquisa. Os instrumentos foram auto-respondidos e durou em média 15 minutos por sala de aula.

Análise dos dados

A análise dos dados foi realizada por meio do Software SPSS (IBM SPSS Statistics for Windows, Version 23.0. Armonk, NY: IBM Corp.), mediante uma abordagem de estatística descritiva e inferencial. Foi utilizado frequência e percentual como medidas descritivas para as variáveis categóricas. Para as variáveis numéricas, inicialmente foi verificada a normalidade dos dados por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. Como os dados não apresentaram distribuição normal, foram utilizadas a mediana (Md) e os quartis (Q1; Q3) para caracterização dos resultados dos dados numéricos. Na comparação dos sintomas de burnout em função da duração e frequência da prática de atividade física, quantidade de tempo sentado na semana e nível de atividade física, foram utilizados os testes “U” de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. Adotou-se como nível de significância p < 0,05.

Resultados

Participaram da pesquisa 147 estudantes na faixa etária entre 18 e 46 anos, com média de idade de 24,6 ± 5,2 anos. Observou-se que a maioria estudantes reportou ser do sexo masculino (61,0%), não ter companheiro (68,5%), ter filho (87,0%) e estar trabalhando na área da educação física (61,2%). Destaca-se que 83,7% dos estudantes apresentou nível de atividade física muito ativo ou ativo.

Ao comparar os sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo de caminhada por dia Table 1, verificou-se diferença significativa apenas nas dimensões do Desgaste Psíquico, indicando que os estudantes que caminhavam até 40 minutos apresentaram maiores sintomas de burnout do que os estudantes com maior tempo de caminhada no dia (Md 2,25 vs. 1,75; p = 0,007).

Table 1: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo de caminhada por dia.

Dimensões de burnout

Até 40 minutos (n = 78)

Mais de 40 minutos (n = 69)

p-valor*

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,40 (2,80; 3,80)

3,60 (3,20; 3,80)

0,367

Desgaste

2,25 (1,50; 3,00)

1,75 (1,00; 2,50)

0,007

Indolência

1,00 (0,66; 1,66)

0,83 (0,50; 1,16)

0,054

Culpa

1,30 (0,60; 2,00)

1,00 (0,60; 1,60)

0,149

 Ao comparar os sintomas de burnout em função do tempo de caminhada semanal Table 2, foi encontrada diferença significativa apenas na dimensão de Desgaste Psíquico, onde os estudantes que caminhavam até 135 minutos semanais apresentaram maiores indicativos para desenvolvimento de desgaste psíquico do que os que caminham mais de 135 minutos semanais (Md 2,25 vs. 1,75; p = 0,017).

Table 2: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo de caminhada por semana.

Dimensões de burnout

Até 135 minutos (n = 75)

Mais de 135 minutos (n = 72)

p-valor*

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,40 (2,80; 3,80)

3,60 (3,20; 3,90)

0,077

Desgaste

2,25 (1,50; 3,00)

1,75 (1,25; 2,50)

0,017

Indolência

1,00 (0,66; 1,50)

0,83 (0,41; 1,33)

0,110

Culpa

1,40 (0,70; 1,90)

0,90 (0,40; 1,70)

0,070

Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa nos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em razão da quantidade de dias de caminhada por semana. NaTable 3 comparou-se os sintomas de burnout em função do tempo de atividade moderada por dia, sendo encontrada diferença significativa apenas na dimensão de Indolência, onde os estudantes que praticavam atividade moderada por até 60 minutos no dia apresentaram escore superior em comparação aos estudantes que praticam mais de 60 minutos de atividades moderadas por dia (Md 1,00 vs. 0,33; p = 0,011).

Table 3: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo de atividade moderada por dia.

Dimensões de burnout

Até 60 minutos (n = 93)

Mais de 60 minutos (n = 54)

p-valor*

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,60 (3,00;3,80)

3,50 (3,00; 4,00)

0,613

Desgaste

2,25 (1,50; 3,00)

1,75 (1,00; 2,50)

0,057

Indolência

1,00 (0,66; 1,50)

0,33 (0,75; 1,16)

0,011

Culpa

1,20 (0,60; 1,80)

1,00 (0,40; 1,60)

0,271

Ao comparar os sintomas de burnout em função do tempo de atividade moderada por semana Table 4, verificou-se maiores escores nas dimensões de Desgaste Psíquico (Md 2,25 vs. 1,80; p = 0,025) e Indolência (Md 1,00 vs. 0,83; p = 0,013) nos estudantes que praticavam até 225 minutos de atividades moderadas por semana.

Table 4: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo de atividade moderada por semana.

Dimensões de burnout

Até 225 minutos (n = 74)

Maior que 225 minutos (n = 73)

p-valor*

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,60 (3,00; 3,80)

3,40 (2,80; 3,80)

0,562

Desgaste

2,25 (1,50; 3,00)

1,80 (1,25; 2,50)

0,025

Indolência

1,00 (0,66; 1,50)

0,83 (0,33; 1,16)

0,013

Culpa

1,30 (0,60; 2,00)

1,00 (0,60; 1,60)

0,216

Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas ao se comparar os sintomas de burnout em função da quantidade de dias de atividade moderada e vigorosa por semana, tempo de atividade vigorosa por dia e por semana, tempo sentado no final de semana (comportamento sedentário) e nível de atividade física.

Na Table 5 comparou-se os sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo sentado durante a semana (comportamento sedentário). Foi encontrada diferença significativa nas dimensões de Indolência (Md 0,83 vs. 1,14; p = 0,011) e Culpa (0,80 vs. 1,40; p = 0,023), evidenciando que os estudantes que passam mais tempo sentado, ou seja, que apresentam maior comportamento sedentário, apresentaram escore superior em ambas as dimensões de burnout.

Table 5: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do tempo sentado durante a semana (comportamento sedentário).

Dimensões de burnout

Até 240 minutos (n = 74)

Maior que 240 minutos (n = 73)

p-valor*

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,40 (3,00; 3,80)

3,60 (2,80; 3,80)

0,785

Desgaste

2,00 (1,25; 2,75)

2,00 (1,50; 3,00)

0,345

Indolência

0,83 (0,40; 1,16)

1,14 (0,66; 1,50)

0,007

Culpa

0,80 (0,40; 1,16)

1,40 (0,80; 1,80)

0,023

Não foi encontrada diferença significativa ao se comparar os sintomas de burnout dos estudantes do curso de educação física em função do nível de atividade física Table 6.

Table 6: Comparação dos sintomas de burnout dos estudantes de educação física em função do nível de atividade física.

Dimensões de burnout

Nível de atividade física

p-valor*

Muito ativo (n = 65)

Ativo (n = 58)

Irreg. Ativo/ Sedentário (n = 24)

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Md (Q1; Q3)

Ilusão

3,60 (2,90; 4,00)

3,40 (3,00; 3,80)

3,30 (2,80; 3,60)

0,340

Desgaste

1,75 (1,25; 2,50)

2,25 (1,44; 3,00)

2,50 (1,50; 3,25)

0,126

Indolência

1,00 (0,33; 1,45)

0,83 (0,50; 1,50)

1,00 (0,67; 1,29)

0,989

Culpa

1,00 (0,60; 1,80)

1,20 (0,55; 1,80)

1,00 (0,60; 1,90)

0,832

Discussão

O presente estudo teve como objetivo verificar se o comportamento sedentário e a duração e a frequência da prática de atividades físicas interferem nos indicativos de burnout em estudantes universitários de educação física. Os principais achados revelaram que os estudantes que caminham em uma menor quantidade de tempo diariamenteTable 1 e semanalmenteTable 2 apresentaram escores mais elevados de desgaste psíquico. Em relação à frequência da prática de atividade física, pode-se observar que os estudantes que praticam menor quantidade de atividade física diariamenteTable 3 e semanalmenteTable 4 apresentaram escores mais elevados de burnout. O mesmo resultado foi observado para os estudantes que possuem maior tempo de comportamento sedentário Table 5 .

Os principais achados desta investigação demostram que os estudantes de educação física que permaneceram maior tempo sentados durante a semana apresentavam maiores indicativos de burnout nas dimensões de Indolência e CulpaTable 5 . Tais resultados sugerem que quanto maior o tempo de comportamento sedentário durante a semana, maiores serão os sentimentos de cobrança em relação às expectativas como profissional, bem como o desinteresse em mudar de atitude. Em uma recente revisão sistemática, Mota et al.4 perceberam maior prevalência da síndrome de burnout em estudantes sedentários em comparação aos considerados ativos fisicamente. Desta forma, os achados deste estudo corroboram com a literatura existente demostrando que a inatividade física pode favorecer os sintomas de burnout em estudantes universitários16, 17, 18.

Contatou-se ainda que quanto menor o tempo de prática moderada de atividade física, maiores foram as chances de os estudantes desenvolverem sintomas de exaustão emocional e física ou apresentarem atitudes negativas (Table 3, Table 4). Uma provável explicação para tais resultados é que no decorrer da preparação para o exercício profissional no mercado de trabalho os estudantes não têm tempo e disposição para a prática de atividades físicas mais intensas9, 12. Dessa forma, a prática de atividades físicas pode ser considerada um fator relevante para a prevenção dos sintomas de burnout que afetam os estudantes durante o processo da formação acadêmica.

Ao comparar os sintomas de burnout de acordo com o tempo de caminhada realizada diariamente pelos estudantes de educação física (Table 1, Table 2), pode-se observar que os estudantes com menor tempo de caminhada diária apresentaram maiores indicativos de exaustão física e emocional. Esses achados corroboram com a atual literatura que indica que a atividade física influencia positivamente na redução dos sintomas de burnout9, 12, 16, 17. Cecil et al.16 observaram em estudantes de medicina que a prática regular de atividade física favorece a diminuição dos sintomas de burnout. Desta forma, a rotina de atividades físicas pode ser considerada uma ferramenta de enfrentamento e prevenção à síndrome de burnout por contribuir para a melhora da saúde, da qualidade de vida e do desempenho das funções ocupacionais dos indivíduos10, 11.

Embora os achados do presente estudo estejam do acordo com os encontrados na literatura9, 12, 16, 17, ressalta-se a importância de novas investigações em estudantes universitários, a fim de levantar evidências científicas que ajudem a orientar estratégias de prevenção da síndrome de burnout e promoção da saúde. Mediante isso, a presente investigação apresenta a limitação de apresentar desenho transversal, o que impede inferir a causalidade. Outra limitação do estudo foi a não comparação dos resultados em função do ano do aluno no curso, visto que as atividades ao longo do curso podem interferir na duração e frequência da prática de atividade física do estudante. Portanto, novos estudos com essa população precisam ser realizados com característica longitudinal, para assim melhor elucidarem os efeitos da síndrome de burnout e da atividade física ao logo da carreira acadêmica de graduandos.

Conclusão

A duração e frequência de atividades físicas e comportamentos sedentários interferem nos indicativos de burnout em estudantes universitários de educação física. Contatou-se que quanto maior o tempo sedentário durante a semana, maiores serão os sintomas de indolência e culpa. Também se verificou que quanto menores forem as práticas de atividades físicas diária e semanal maiores serão os impactos nos índices de burnout.

Informações Complementares

Conflitos de interesse: Os autores informam não haver conflitos de interesse relacionados a este artigo.

Contribuição i ndividual dos autores:

Concepção e desenho do estudo: DVO, JRANJ

Análise e interpretação dos dados: GLMF, JRANJ, LPO, JAGG

Coleta de dados: JJMX, TBR, HDAP

Redação do manuscrito: JAGG, JRANJ, GLMF

Revisão crítica do texto: DVO, JRANJ, LPO

Aprovação final do manuscrito*: DVO, GLMF, JJMX, TBR, HDAP, JAGG, LPO, JRANJ

Análise estatística: JRANJ, GLMF

Responsabilidade geral pelo estudo: DVO

*Todos os autores leram e aprovaram a versão final do manuscrito submetido para publicação da Rev Cienc Saude.

Informações s obre financiamento: não se aplica.