Padrões de consumo de bebidas energéticas e suplementos alimentares à base de cafeína por frequentadores de academias / Patterns of consumption of energy drinks and caffeine-based food supplements by gym goers


Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa., Viçosa, Minas Gerais, Brasil
Departamento de Educação Física, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Minas Gerais, Brasil

Resumo

Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento, hábitos, e prevalência de consumo de energéticos e suplementos à base de cafeína por praticantes de exercícios físicos em academias. Métodos: Foi empregado um questionário autoaplicável de 27 perguntas no Google® Forms, divulgado em mídias sociais entre setembro e outubro de 2018. Resultados: Participaram 200 frequentadores de academias, 71% adultos jovens, 52% tendo mais de 2 anos de prática e frequência regular de 5 - 6 vezes por semana. A maioria da amostra era mulher (58,5%), praticante de musculação (61,6%) de MG (62,5%). O consumo sem orientação profissional foi de 81,6% nos energéticos e 53,9% para suplementos à base de cafeína. 73,3% dos consumidores de energéticos tinham objetivos relacionados com atividades sociais, preferindo a marca RedBul® (40,4%). Entre os consumidores de suplementos de cafeína houve preferência por termogênicos (32,7%) e cafeína pura (29,9%), com objetivo principal a melhora de performance (28,7%), apresentando respostas ergolíticas de taquicardia e palpitações como registrado nos energéticos. Não houve registro de efeitos adversos em 19,2% dos consumidores de cafeína e 40,8% de energéticos. As dosagens de consumo dos produtos estavam dentro da faixa de segurança (< 3 mg/Kg). Conclusão: O consumo de ambos produtos foi feito sem orientação profissional, porém, com dosagens dentro da faixa de segurança. O consumo de bebidas energéticas esteve voltado para atividades sociais e melhora da performance esportiva. Foram registrados efeitos ergolíticos.

Keywords

athletic performance, caffeine, dietary supplements, fitness centers

Informações Gerais

Artigo Original

Submetido em 05 de maio de 2020, aceito em 14 de setembro de 2020, publicado em 08 de dezembro de 2020

*Autor de correspondência:

Rua Tenente João Coelho, nº 111. Centro. Virginópolis, MG, Brasil | CEP 39730-000

Fone: (33) 9 8882-8287

E-mail: iago_lpb@live.com

Este estudo foi realizado na Universidade Federal de Viçosa

https://doi.org/10.21876/rcshci.v10i4.976

2236-3785/© 2020 Revista Ciências em Saúde. Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob uma licença CC BY-NC-SA (https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/deed.pt_BR)

Abstract

Objective: Evaluate the level of knowledge, habits, and prevalence of consumption of energy drinks and supplements based on caffeine by practitioners of physical exercises in gyms. Methods: A self-administered questionnaire of 27 topics was used on Google® Forms, published on social media between September and October 2018. Results: 200 gym goers participated, 71% young adults, 52% having more than two years of practice, and attendance regular 5 - 6 times a week. Most were women (58.5%), bodybuilders (61.6%), and from Minas Gerais State (62.5%). Consumption without professional guidance was 81.6% for energy drinks and 53.9% for caffeine-based supplements. Most energy consumers (73.3%) had goals related to social activities, preferring the RedBul® brand (40.4%). Among consumers of caffeine supplements, there was a preference for thermogenic (32.7%) and pure caffeine (29.9%), with the primary objective of improving performance (28.7%), presenting ergolytic responses of tachycardia and palpitations as recorded in energy drinks. There was no record of adverse effects in 19.2% of caffeine consumers and 40.8% of energy drinkers. The consumption dosages of the products were within the safety range (< 3 mg/kg). Conclusion: The consumption of both products was made without professional guidance, however, with dosages within the safety range. The consumption of energy drinks aimed at social activities and improved sports performance. Ergolytic effects have been reported.

Introdução

Suplementos alimentares (SA) estão disponíveis para atender objetivos diferenciados dos praticantes de diversas modalidades esportivas. Entre estes produtos, têm-se: isotônicos e barras energéticas para reposição energética1, whey protein e creatina para suplementação proteica2, além de termogênicos, bebidas energéticas (BE) e produtos contendo cafeína3, 4. Estes e outros produtos compõem os denominados recursos ergogênicos nutricionais (REN)1, 5, podendo ser facilmente adquiridos em lojas especializadas, supermercados, academias ou farmácias de manipulação. A facilidade da aquisição gera, em muitas ocasiões, um consumo elevado e inadequado, obtendo informações em fontes não confiáveis, como blogs, fóruns, além da prescrição por profissionais incapacitados1.

A cafeína é uma substância da família das xantinas, que, devido a sua natureza lipofílica, atravessa a barreira hematoencefálica atuando como estimulante do sistema nervoso central através de um mecanismo antagonista nos receptores de adenosina6. A forma mais comum encontrada em SA e BE é a cafeína anidra (1-3-7-trimetilxantina), que tem pico de ação após 30 - 60 minutos da ingestão6, 7, 8. Diversos estudos vêm mostrando os potenciais efeitos da suplementação de cafeína na performance esportiva de forma aguda9, 10. Além disso, também é procurada pelo seu potencial termogênico, podendo acelerar o processo de emagrecimento aumentando a produção de calor pelo corpo, a mobilização de ácidos graxos livres para produção de energia, e diminuição da glicogenólise8, 9, 11, 12. A cafeína também pode aumentar os níveis de força9, e com isto melhorar a resposta do treinamento de hipertrofia. Doses seguras variam entre 3 - 6 mg/kg de massa corporal, tendo seus efeitos esperados dentro dessa faixa6, 8. O uso de doses acima de 9 mg/kg e sem orientação profissional pode prejudicar o consumidor, com o aparecimento de ansiedade, náuseas13, dependência, dores de cabeça, desidratação e tremedeiras1, 8.

A cafeína é um dos princípios ativos em BE de marcas comerciais. Desde 1987, quando foram inseridas no mercado, sua popularidade e consumo vem aumentando14. Existem praticantes de diversas modalidades que as utilizam como SA, visando melhoria no desempenho de suas provas3. Um estudo recente de Reis et al.4, encontrou que o consumo de BE melhorou de forma significativa o desempenho durante um exercício de corrida.

É importante verificar características relacionadas e padrões de consumo de suplementos contendo cafeína para ampliar o conhecimento científico sobre o assunto para nutricionistas, indústria e profissionais relacionados ao Fitness. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar o nível de conhecimento, hábitos e prevalência de consumo de bebidas energéticas e suplementos alimentares à base de cafeína por frequentadores de academias.

Métodos

Foi empregada metodologia exploratória descritiva e quantitativa, através da aplicação de questionário como instrumento de coleta de dados, seguindo a metodologia adotada em outros estudos15. O questionário consistiu em 34 perguntas de múltipla escolha relacionadas ao treinamento, consumo de BE e suplementos de cafeína, sendo auto aplicado online, através da ferramenta de formulários Google® Forms, de setembro a novembro de 2018, não havendo interferência do entrevistador.

O questionário foi desenvolvido especificamente para esse tema, avaliado por profissionais de nutrição e especialistas em nutrição esportiva até sua versão final. Posteriormente, o questionário passou por um teste piloto de maneira presencial com um aplicador treinado, nas academias de Viçosa (MG). A partir disto, foi divulgado em redes sociais (Facebook®, WhatsApp® e Instagram®). O questionário final foi dividido em quatro eixos, sendo o primeiro de caracterização amostral, sobre idade, sexo, atividade praticada na academia, seguido de perguntas sobre treinamento (tempo de prática, duração da sessão, frequência semanal e objetivo). Posteriormente um rol de perguntas sobre consumo de BE, seguido do nível de conhecimento e consumo de suplementos de cafeína (Table 1).

Table 1: Questionário aplicado sobre o consumo de bebidas energéticas e cafeína em ambiente de academia.

Nome da Academia:

Cidade:

Idade:

Estado:

Sexo: [ ] Masculino [ ] Feminino

Seu objetivo principal na academia é: [ ] Saúde [ ] Estético [ ] Condicionamento Físico [ ] Lazer [ ] Fazer Amigos [ ] Forma Auxiliar de Preparação Física [ ] Outro

Em caso de outro, qual?

É praticante de: [ ] Musculação [ ] CrossFit [ ] Lutas [ ] Dança [ ] Ginástica [ ] Hidroginástica [ ] Pilates [ ] Outro

Sendo Outro, qual(ais)?

Há quanto tempo você pratica exercícios físicos? [ ] Menos de 6 meses [ ] De 6 a 12 meses [ ] Entre 12 e 24 meses [ ] Mais de 24 meses

Você treina habitualmente quantas vezes por semana? [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 5 [ ] 6 [ ] 7

Quanto tempo habitualmente dura sua sessão de treinamento? [ ] Até 60 minutos [ ] Entre 60 e 90 minutos [ ] Entre 90 e 120 minutos [ ] Mais de 120 minutos

Qual(ais) dessas marcas de bebidas energéticas você conhece? [ ] RedBull [ ] TNT [ ] Burn [ ] Fusion [ ] Red Panther Energy [ ] Dynamite [ ] FAB [ ] Monster Energy [ ] Red Horse [ ] Super Power [ ] Nenhuma das Anteriores

Você já ingeriu alguma dessas Bebidas? (Se a resposta for negativa, pular para a questão 22) [ ] Sim [ ] Não

Qual(ais) dessas bebidas você já provou e/ou prefere? [ ] RedBull [ ] TNT [ ] Burn [ ] Fusion [ ] Red Panther Energy [ ] Dynamite [ ] FAB [ ] Monster Energy [ ] Red Horse [ ] Super Power [ ] Outra

Em caso de outra, qual?

Ao consumir uma bebida energética já sentiu algum dos sintomas a seguir? [ ] Dor de Cabeça [ ] Taquicardia [ ] Palpitação [ ] Ansiedade [ ] Tremor [ ] Náusea [ ] Outros [ ] Nenhum dos Anteriores

Já inferiu visando algum efeito para exercícios físicos? [ ] Sim [ ] Não

Se sim, em qual momento você utilizou esse suplemento? [ ] Antes do Treino [ ] Antes e Durante o Treino [ ] Durante o Treino [ ] Durante e Após o Treino [ ] Após o Treino [ ] Antes, Durante e Após o Treino

Qual a Quantidade Ingerida?

Você recebeu alguma indicação para o uso desse recurso ergogênico? [ ] Não [ ] Nutricionista [ ] Médico [ ] Profissional de Educação Física [ ] Amigo [ ] Revendedor [ ] Mídia

Muitos alimentos possuem certa quantidade de cafeína. Temos interesse de saber qual desses você consome diariamente. [ ] Café [ ] Chá Verde, Mate ou Preto [ ] Refrigerante à Base de Cola [ ] Chocolate [ ] Nenhum dos Anteriores

Você conhece algum suplemento à base de cafeína? [ ] Sim [ ] Não

Se sim, qual(ais)? Caso não conheça, finalize o questionário.

Você já fez ou faz uso de algum suplemento à base de cafeína? (Se não, finalize o questionário). [ ] Sim [ ] Não

Você utiliza esse suplemento com que finalidade? [ ] Melhorar o Estado de Alerta [ ] Diminuir a Fadiga [ ] Melhorar a Capacidade Física [ ] Diminuir o Sono [ ] Tentar Emagrecer [ ] Outro

Sendo outro, qual(ais)?

Já sentiu algum dos sintomas a seguir? [ ] Dor de Cabeça [ ] Taquicardia [ ] Palpitação [ ] Ansiedade [ ] Tremor [ ] Náuseas [ ] Outro [ ] Nenhum dos Anteriores

Sendo outro, qual(ais)?

Em qual momento você utiliza(ou) esse suplemento? [ ] Antes do Treino [ ] Antes e Durante o Treino [ ] Durante o Treino [ ] Durante e Após o Treino [ ] Após o Treino [ ] Antes, Durante e Após o Treino

Qual a forma de ingestão? [ ] Cápsula [ ] Líquida [ ] Outra

Sendo outra, qual(ais)?

Qual a quantidade ingerida (mg)?

Você recebeu alguma indicação para o uso desse recurso ergogênico? [ ] Não [ ] Nutricionista [ ] Médico [ ] Profissional de Educação Física [ ] Amigo [ ] Revendedor [ ] Mídia.

Como pré-requisitos os participantes deveriam ser maiores de 18 anos e frequentar academias. Todos os voluntários foram previamente informados sobre o intuito da pesquisa, permitindo a seleção da amostra, não sendo exigida nenhuma identificação pessoal. Este estudo seguiu as recomendações da Lei 466/2012 para estudos com seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (UFV, MG), sob o parecer 832125/2014.

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o Microsoft Office Excel 2019, por meio de cálculos percentuais dos índices de frequência das respostas, subsidiando a apresentação dos resultados em tabelas.

Resultados

Duzentos praticantes de atividades físicas variadas que frequentavam academias compuseram a amostra, sendo 83 (41,5%) do sexo masculino e 117 (58,5%) do sexo feminino. A maioria da amostra (45%) residia em Viçosa (MG), apresentando média de 24,9 anos de idade. Observou-se maior aderência à musculação (61,6%), seguida pela dança (6,8%), lutas em geral (5,5%), Crossfit® (4,1%), entre outras. As características da amostra e perfil de prática esportiva podem ser encontradas na Table 2. O nível de conhecimento e uso de BE está representado na Table 3, e o nível de conhecimento e uso de suplementos de cafeína na Tabela 4.

Table 2: Características da amostra e perfil de prática esportiva de consumidores de bebidas energéticas e suplementos de cafeína (n = 200).

C aracterística

%

Faixa Etária (anos)

18-25

71

26-35

19,5

36-45

8,5

> 46

1

Tempo de Prática (meses)

< 6

19,5

6 a 12

14

12 a 24

14,5

> 24

52

Frequência Semanal de Treino

1 a 2

3,5

3 a 4

43

5 a 6

52

7

1,5

Duração da Sessão de Treino (min)

Até 60

56

60 a 90

39

90 a 120

4,5

> 120

0,5

Objetivo do Treino

Saúde

32,7

Estética

27,4

Condicionamento

25,9

Lazer

6,2

Fazer amigos

1,1

Aux. Preparação Física

5,3

Outro

1,7

Table 3: Caracterização sobre o consumo de bebidas energéticas em ambiente de academias (n = 200)

Característica

%

Já Consumiu

Sim

84

Não

16

Orientação

Nutricionista

6,6

Médico

0,7

Profissional de Educação Física

2,6

Amigo

3,9

Mídia

4,6

Não Recebeu

81,6

Preferência

RedBull®

40,4

TNT®

16,2

Fusion®

12,5

Monster Energy®

12,5

Burn®

8

Outra

10,4

Ingestão Visando Efeitos na Ativ. Física

Sim

26,7

Não

73,3

Momento da Utilização

Pré-treino

98

Intra-treino

2

Quantidade Ingerida (mL)

100

2

250

66,7

300

15,7

400

13,7

500

2

Sintomas

Taquicardia

15,6

Palpitação

10,8

Tremores

10,4

Ansiedade

10

Dor de Cabeça

5,6

Náusea

5,6

Outro

1,2

Nenhum dos anteriores

40,8

Table 4: Caracterização sobre o consumo de suplementos de cafeína em ambiente de academias (n = 200).

Característica

%

Característica

%

Conhece

Já Fez Uso

Sim

58

Sim

49

Não

42

Não

51

Tipo

Quantidade (mg)

Termogênico

32,7

120

13,3

Cafeína

29,9

210

57,8

Pré-treino

21,5

> 300

28,9

Manipulado

14

Guaraná

0,9

Forma

BCAA

0,9

Cápsula

83,5

Líquido

10,3

Indicação

5,2

Nutricionista

28,4

Gel

1

Profissional de Educação Física

7,8

Lojista

3,9

Sintomas

Mídia

3,9

Taquicardia

16,1

Médico

2

Ansiedade

15

Não recebeu

53,9

Cefaleia

14,5

Tremores

13,5

Momento de Utilização

Palpitação

8,8

Pré-treino

94,5

Náusea

8,3

Pré e durante

3,3

Outro

4,7

Pós-treino

1,1

Nenhum dos anteriores

19,2

Pré, durante e pós-treino

1,1

Outras Fontes de Cafeína

Finalidade

Café

48,7

↑ Performance

28,7

Chocolate

21,3

↓ Fadiga

21,3

Chás

12,9

↑ Alerta

18,5

Refrigerante (Cola)

7,4

↓ Sono

16,2

Nenhum dos anteriores

9,7

Emagrecimento

13,4

Outro

2

Legenda: ↑ = Aumento; ↓ = Diminuição.

Discussão

Neste trabalho, a participação do público feminino foi elevada (58,5%), o que não é habitual em estudos de questionário deste tipo de levantamento. Por exemplo, no trabalho de Silva e Marins1, sobre o nível de conhecimento de REN em atletas, a participação feminina foi de 34,5%, sendo assim, o perfil de respostas obtidas neste estudo pode ter influência do fator sexo. A maior prevalência de participação feminina neste estudo pode ter ocorrido devido as mulheres serem conhecidas por apresentar maior preocupação com a saúde, motivando a busca pelos benefícios advindos da suplementação de cafeína.

A faixa etária da amostra mostrou-se composta predominantemente por adultos jovens, de 18 a 25 anos (71%), assim como encontrado por Silva e Marins¹. A procura por SA é comum nessa faixa etária, considerando a facilidade de acesso à informação e compra desses produtos, além do apelo midiático direcionado para este público, que compõe a maior parte dos frequentadores de academias com objetivos estéticos, sendo uma população com maior participação em mídias sociais, local onde a pesquisa foi divulgada, diferentemente de trabalhos como o de Nordt et al.16, que obteve dados presencialmente.

É importante mencionar que a maior parte da amostra foi composta por praticantes regulares e de longa aderência, visto que 52% realizavam a atividade com mais de dois anos de regularidade, além de treinar cinco a seis vezes por semana, realizando uma sessão de treinamento com duração de até 60 minutos, podendo assim ser caracterizada como experiente, aumentando a probabilidade de ter conhecimento sobre BE e suplementos de cafeína. A maioria dos voluntários tinha como objetivo principal a manutenção da saúde (32,7%), seguida por estética (27,4%) e melhora do condicionamento físico (25,9%). Isto indica que a amostra possuía consciência da importância do exercício físico para a qualidade de vida.

Quanto ao consumo de BE, notou-se que grande parte da amostra já havia feito ou faz o consumo das mesmas (84%), por auto indicação (81,6%). Estes dados, em conjunto com 73,3% da amostra não ingerir BE visando efeitos na atividade física, corroboram a ideia de que elas não são vistas como um SA, mas consumidas socialmente, como em festas, bares, etc., buscando energia e disposição para o momento em questão.

O consumo de BE como possível agente ergogênico foi avaliado por Reis et al.4, apresentando potencial de segurança para seus consumidores. Dos 26,7% de indivíduos deste trabalho que atestaram consumir BE visando efeitos nas atividades físicas, 98% consumiam como pré-treino, o que caracteriza uma prática adequada, desde que prescrita por um profissional capacitado4. As BE podem ser utilizadas como um recurso auxiliar ao treinamento por conter em sua formulação, além da cafeína, outras substâncias como taurina e carboidratos, trazendo benefícios para praticantes de modalidades diversas17, 18.

A existência de diferentes marcas comerciais com formulações variadas revela uma dificuldade em precisar os efeitos trazidos pelo consumo de determinadas quantidades de BE. Existem latas de 250 mL, mas também latas com volumes maiores que 400 mL. Portanto, um produto pode ter mais, menos ou as mesmas concentrações de cafeína e taurina de outro, mesmo em diferentes volumes, dificultando a prescrição e/ou correta avaliação dos efeitos advindos do seu consumo19. Analisando duas marcas conhecidas do mercado, pode-se observar com clareza essa diferença. Os produtos da RedBull® contém em sua formulação 80 mg de cafeína por lata de 250 mL20, correspondendo a 1,14 mg/kg para um homem de 70 kg, e 1,6 mg/kg para uma mulher de 50 kg. Ao contrastar esse valor com a bebida da marca Monster®, comercializada em latas de 473 mL, encontra-se aproximadamente 154 mg de cafeína por lata, porém, em 250 mL da mesma, a concentração de cafeína é semelhante a RedBull®, o que se mantém bem abaixo da zona de risco de consumo desse composto. Sendo assim, seria interessante que as fabricantes padronizassem as informações nutricionais nos rótulos para um mesmo volume, facilitando o entendimento da composição e prescrição, quando necessário.

O uso dessas substâncias tornou-se comum no cotidiano das pessoas, principalmente de forma social, desconhecendo riscos que o consumo exacerbado pode trazer, como sintomas relatados de taquicardia (15,6%), palpitações (10,8%) e tremores (10,4%)14. Porém, foi encontrado em sua maior parte o consumo de dosagens regulares de 250 mL (66,7%) de BE, o que se mostrou positivo, tendo apenas 2% dos consumidores fazendo uso de um total de aproximadamente 500 mL, correspondendo a 160 mg de cafeína, o que, para um homem de 70kg representa 2,3 mg/kg, ainda sendo uma dosagem segura para consumo.

O público avaliado mostrou preferência pela marca RedBull® (40,4%), o que pode estar relacionado com o maior tempo/história de mercado e eficiência de campanhas de marketing. Ademais, pode-se associar o maior consumo de volumes de 250 mL devido a esta empresa comercializar seus produtos em latas desta quantidade. Em estudos anteriores esta marca já foi citada como de preferência, como no trabalho de Nowak e Jasionowski20.

Neste trabalho, o consumo de suplementos à base de cafeína pode ser considerado frequente, pois 49% da amostra atestou já ter feito uso, destacando-se termogênicos (32,7%), cafeína pura (29,9%), “pré-treinos” (21,5%) e fórmulas manipuladas (14%). Atualmente, a geração do marketing digital tem facilitado o acesso a esse tipo de produto, amplamente divulgados em redes sociais, porém, na maioria dos casos, tendo fonte não confiável. Além disso, há ausência da requisição de prescrição nutricional ou médica, possibilitando que qualquer pessoa os adquira em lojas especializadas, supermercados ou farmácias.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), apenas nutricionistas ou médicos estão habilitados a prescrever SA21. Porém, os achados deste estudo mostram que a maior parte do consumo de suplementos à base de cafeína (53,9%) ocorre por auto indicação, sem orientação de profissionais qualificados, podendo representar um risco para a saúde.

Foi notado que os consumidores receberam orientações de amigos, revendedores e de educadores físicos. Vale lembrar que, a Lei nº 9.696, de 1 de setembro de 1998 que regulamenta a profissão do profissional de educação física, não o atribui capacidade e competência para exercer atividades relacionadas com a alimentação e prescrição de SA22. Isso reforça a preocupação com a qualidade da informação repassada aos consumidores. A ausência de conhecimento técnico impede a avaliação e determinação da real necessidade da suplementação. Aliando estes fatores à facilidade de obtenção de informações, é possível explicar a predominância pela autoadministração, na maioria das vezes ausente de conhecimento técnico especializado.

Mesmo sem orientações de profissionais adequados, a utilização se deu predominantemente no período pré-treino (94,5%), o que é desejável devido aos efeitos da cafeína serem agudos. Os principais motivos de consumo encontrados quando associada ao treinamento foram a busca de melhora de performance (28,7%) e redução da fadiga (21,3%), efeitos promovidos pelo bloqueio direto dos receptores de adenosina, aumentando o desempenho esportivo, podendo assim ter efetivamente uma ação ergogênica.

A cafeína também é conhecida como um dos principais aceleradores de metabolismo do mercado, levando parte dos consumidores ao seu uso por fins estéticos5. Porém, neste trabalho o consumo de cafeína não esteve majoritariamente ligado a esta finalidade, pois apenas 13,4% dos consumidores buscavam auxiliar a perda de peso, mostrando talvez um desconhecimento deste efeito pela amostra. O consumo de emagrecedores pode estar relacionado com quadros de transtornos de imagem, como anorexia5. A constante manipulação pela mídia social através do bombardeio de fotos de corpos magros e musculosos estimula a busca por formas de acelerar a conquista do “corpo perfeito”, levando a práticas opostas a melhora da saúde, como o uso de esteroides anabólicos sem necessidade, além da superdosagem de substâncias como a cafeína, conhecida por promover efeitos ergolíticos em dosagens superiores a 9 mg/kg13.

A dose de cafeína mais utilizada foi de 210 mg (57,8%), predominantemente em forma de cápsula (83,5%), pela facilidade de consumo. Apenas 28,9% da amostra declarou fazer uso de dosagens iguais ou superiores a 300mg/dia, se aproximando do limite máximo de consumo diário recomendado pela ANVISA (400 mg) em seu parecer sobre limites mínimos e máximos para regulação de SA. A concentração de 210 mg é comumente encontrada em uma cápsula de suplemento a base de cafeína, justificando a maior frequência de aparecimento desta dosagem no estudo. Além disso, tem se mostrado uma concentração segura para utilização, próxima do limite máximo por dose (200 mg) estabelecido pela ANVISA no Brasil. Naderi et al.8 consideram doses entre 3 - 6 mg/Kg seguras para o consumo, sendo assim, uma dose de 210 mg corresponderia a 3 mg/kg num homem de 70 kg, e 4,2 mg/kg numa mulher de 50 kg, mantendo-se dentro da faixa de segurança.

A cafeína apresenta efeito inibitório do hormônio antidiurético (ADH), podendo ocasionar quadros de desidratação, muitas vezes despercebidos pelos usuários11, 23, sendo a prática de exercício físico em estado de desidratação prejudicial à saúde24. Além disso, os usuários tendem a acreditar que uma dosagem maior trará maiores benefícios, o que não é verdade, pois os efeitos não são dose-dependente, trazendo efeitos colaterais com consumo excessivo.

Neste estudo, 19,2% dos voluntários não sentiram efeitos adversos com a utilização de cafeína. Porém, parte da amostra, provavelmente nos 28,9% de indivíduos que consomem doses superiores aos 300 mg/dia, foi notado aparecimento frequente de taquicardias (16,1%), ansiedade (15%), dores de cabeça (14,5%) e tremores (13,5%). Ademais, 48,7% dos voluntários atestou consumir café diariamente, o que contribui com a ingestão de cafeína. Existem evidências de que o consumo diário de cafeína diminui os efeitos ergogênicos da suplementação25, enquanto que, consumidores não habituais tem, potencialmente, maior sensibilidade aos efeitos ergogênicos esperados. Apenas 7,4% dos indivíduos também consumiam refrigerantes de cola, devendo-se considerar também a ingestão diária de cafeína neste grupo.

Tendo em vista a estratégia adotada neste estudo com a realização da coleta de dados via questionário online, pode ser considerada como uma limitação a impossibilidade de caracterização clara de um perfil amostral localizado, por exemplo, de academias de um determinado município. Se por um lado a ausência da presença física do avaliador pode ser considerada um ponto positivo, pois impede qualquer viés de resposta, influenciando o entrevistado, pode trazer como ponto negativo a incapacidade de auxiliar na compreensão de alguma pergunta, o que pode prejudicar a interpretação do questionário. Além disso, o nível de escolaridade da amostra não foi avaliado, o que pode influenciar parte dos dados.

Como sugestões para estudos futuro têm-se a aplicação de questionários estabelecendo um perfil por Estado ou região específica do país, avaliando aspectos socioeconômicos e educacionais também, a fim de se obter um perfil mais completo da população avaliada, ampliando a base de discussão sobre o tema.

Conclusão

A maioria dos frequentadores de academias que buscaram auxílio de REN relacionados com BE e suplementos à base de cafeína foram mulheres, adultas jovens, altamente aderentes ao treinamento físico. Grande parte da amostra apresentou hábitos seguros de consumo de BE e suplementos à base de cafeína, porém, buscando fontes não confiáveis de informação, sendo necessário conscientizar, educar e informar sobre o papel do nutricionista e/ou médico, como fonte segura de informação e prescrição de REN para praticantes de exercícios físicos. Quanto ao hábito de consumo de bebidas energéticas, observou-se grande prevalência de consumo, preferencialmente por RedBull®, em sua maior parte sem orientação profissional, de forma social e sem visar efeitos em exercícios físicos, com um consumo usual de uma lata de 250 mL. A parcela da amostra que faz seu consumo tendo em vista melhoria de desempenho, utiliza no momento pré-treino em dosagens adequadas e seguras. Contudo houve relatos de sintomas já esperados, como taquicardias, palpitações e tremores.

Sobre o consumo de suplementos de cafeína, houve preferência pela classe dos termogênicos em geral, majoritariamente sem orientação, o que pode ser especialmente perigoso em função da concentração de alguns produtos ofertados. Quando do seu consumo, este foi realizado preferencialmente no momento pré-treino, com a finalidade de aumento de performance. A quantidade consumida, usualmente foi igual ou superior a 210 mg, preferencialmente em forma de cápsula, sendo relatado o aparecimento de sintomas similares aos acarretados pelo consumo de BE, como cefaleia e taquicardia.

Informações adicionais

Conflitos de interesse: Os autores informam não haver conflitos de interesse relacionados a este artigo.

Contribuição individual dos autores:

Concepção e desenho do estudo: IP, HH, VF, JBM

Análise e interpretação de dados: IP, VF, JBM

Coleta de dados: VF

Redação do manuscrito: IP, JBM

Revisão crítica do texto: HH, JBM

Aprovação final do manuscrito*: IP, VF, HH, JBM

Análise estatística: IP

Responsabilidade geral pelo estudo: IP, VF, HH, JBM

*Todos os autores leram e aprovaram a versão final do manuscrito submetido para publicação da Rev Cienc Saude.

Informações sobre financiamento: FAPEMIG (Código de Financiamento: APQ-00425-14, destinado para aquisição de material permanente e de consumo)